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domingo, 6 de fevereiro de 2011

ESPECIAL ALCIDES - PARTE 5

Fonte JC Online

SOCIEDADE



TIROS NA ESPERANÇA

A morte de Alcides foi injusta, brutal. Extremamente violenta. Mas não se pode dizer que tenha sido silenciosa. Trouxe consigo uma revolta com a falta de segurança no Recife e uma comoção popular rara de se encontrar nos dias atuais.

Jovem, pobre e negro. Alcides carregava as três características das pessoas mais suscetíveis à violência. Como ele, já morreram tantos outros. Vários Alcides escondidos na periferia do Recife e de várias cidades brasileiras. Pernambuco ainda é o segundo estado onde morrem mais negros, atrás apenas da Paraíba.

Alcides que sonham, brigam, lutam. Vencem, fracassam. E desafiam diariamente as estatísticas, numa corda bamba entre a vida e a morte. Um limite muito tênue, que se dissolve na lágrima de uma mãe ou no gatilho de um revólver. Foi assim com Alcides, será assim com vários outros.

A morte do estudante deixou, além da imagem brutal na mente da família, um sentimento contínuo de insegurança e insatisfação em boa parte da sociedade pernambucana.

Esta mesma sociedade aterrorizada não deixou de prestar homenagens àquele que se transformou em símbolo da resistência, da luta contra a desigualdade e a injustiça social. Alcides, além de estudar na UFPE, trabalhava no Hemope e sustentava quase sozinho a mãe e três irmãs. Era também um dos melhores alunos de Biomedicina, segundo o professor Paulo Miranda. E planejava começar o curso de medicina. Mais um sonho interrompido na vida do jovem.

O acusado pela morte de Alcides, João Guilherme Nunes Costa, está preso no Centro de Triagem (Cotel), em Abreu e Lima. O adolescente que também teria participado do crime está na Funase (Fundação de Atendimento). Eles já estão à disposição da Justiça. O juiz Ernesto Bezerra Cavalcanti, da 1ª vara do Tribunal do Júri do Recife, já ouviu todas as partes do processo. Ministério Público e defesa também já fizeram suas alegações finais. O juiz deve decidir, em breve, se o caso deve ir ou não a júri popular.



DOCUMENTÁRIO

Sobre esses sobreviventes, os jornalistas Erika Castaneda, Jaime Cavalcanti, Paula Sampaio e Pedro Escobar produziram o documentário "Os outros". Nele, são mostradas as histórias das catadoras de lixo Maria das Dores, que trabalhava na Mirueira, e Nice Bezerra, nora de Maria. A filha de Nice, Natália, 16 anos, sustenta um filho com dificuldade. O marido da adolescente vive de "bicos" e ela não trabalha. "Meu sonho é sair daqui", diz Nice. Luiz Francisco, carroceiro, diz que só pede um presente ao filho: que ele estude.

O cientista político José Maria Nóbrega traz relevante contribuição ao documentário, ao explicar o porquê da comoção social causada pela morte de Alcides. "Um jovem, mesmo estando no grupo entre 20 e 29 anos de idade, do sexo masculino, negro e de baixo nível de renda, se ele consegue ter um alto nível de escolaridade, ou seja, se ele consegue ultrapassar os doze anos de estudo, dificilmente ele é vitimado. Quando isso ocorre, há um impacto muito grande".

Outros personagens do documentário são os estudantes universitários Sandro Silva de Lima, Igor Gomes e Waneska Viana, todos egressos de escola pública. "Alcides conseguiu chegar [na Universidade], mas existem muitos Alcides que não conseguem. Isso tem que ser visto", comenta Waneska.

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